AS MARCAS DE UM VERDADEIRO DISCÍPULO

19/08/2012 13:56

TEXTO: Mateus 5. 1-16

 

Introdução

Depois de ter o Senhor Jesus pregado a aproximação do Reino de Deus, perguntas devem ter surgido nas mentes laboriosa dos israelitas: “Quais são as leis desse Reino? Qual a sua relação com as leis de Moisés? O novo ensinador veio acabar com a antiga lei? Que fazer para entrar nesse Reino?” Com o propósito de responder àquelas indagações e estabelecer o padrão de conduta dos cidadãos do Reino, o Senhor proferiu um discurso-chave, popularmente chamado “O Sermão na Montanha”.

O texto para o estudo é tirado da primeira parte do discurso, conhecido como as “Bem-aventuranças”.

A expressão “Bem-aventurado” oferece a chave para a verdadeira felicidade oferecida pelo Mestre. A palavra, no original grego, significa a bênção divina em contraste com a felicidade humana. Esta bem-aventurança descreve o estado de vidas em retidão: aqueles humildes, mansos, misericordiosos, puros de coração e pacíficos. O mundo tem seu próprio conceito de bem-aventurança, onde feliz é o homem forte, rico, popular e satisfeito consigo mesmo.

Quando Jesus anunciou seu segredo, aquelas palavras soaram de forma estranha a muitas pessoas, pois descreviam um modo de viver que lhes parecia impraticável. Conta-se o caso de uma criança “e outros casos semelhantes tem havido) capturada por lobos e que viveu entre eles dos dois aos 11 anos de idade. A criança andava de quatro; as juntas dos joelhos eram grandes e duras por andar assim. Só queria comer carne crua e, quando voltou à dieta normal, ficou doente e morreu. Vivera tanto tempo no habitat dos lobos, que aquela lhe parecia a maneira natural de viver.

O mundo conviveu tanto tempo com princípios egoístas, que os ensinos de Jesus só poderia parecer-lhes estranhos, e anormal o seu modo de vida. Mas, na realidade, excêntricos (literalmente, “fora do centro”) são os que adotam princípios mundanos em suas vidas.  “Um homem orgulhoso, em sua auto-estima, é como um porco-espinho enrolado na direção errada, a torturar-se com os próprios espinhos”.

I – Os Pobres de Espírito

     “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. O humilde de espírito não é aquele que se autodeprecia, porque aprendemos de Cristo o valor da personalide: “Amados, agora somos filhos de Deus” (1 Jo 3. 2). Tampouco serve de exemplo aquela pobreza de coragem demonstrada pelos dez espias (Nm 13. 26-330; Ou a do homem que escondeu os talentos (Mt 25. 24-30). O que significa então? Pela freqüência com que as riquezas levam as pessoas a tornarem-se auto-suficientes, a palavra rico é usada figurativamente na Bíblia para indicar o orgulhoso, e pobre ou humilde para exemplificar o tipo de pessoa que depende dos outros. Ser pobre ou humilde de espírito é ter modesta estimativa de si mesmo – seu caráter e realizações – com base no reconhecimento dos próprios pecados. Pessoas humildes são pessoas felizes. Mas triste são os orgulhosos de espírito.

II – Os que Choram

       “ Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”.  O chorar por si mesmo não traz bênção, porque muitos há que choram sem consolação. Não há bênção reservada aos que lastimam perdas egoístas ou ambições frustradas, nem ao pessimista deliberado. E o chorar pelos entes queridos pode trazer, ao invés de bênção, amargura e desânimo. O choro nascido do remorso também não pode canalizar benefícios: o inferno encher-se á dele. Nem toda tristeza é consolada. Porém, existe aqueles que têm por certa a consolação e a bênção: os que choram a ausência da comunhão com Cristo (Jo 20. 11-16); os que choram seu pecado, não meramente por causa da punição devida (Is 6. 5, 6; Rm 7. 24, 25). Um jovem belga, mais tarde chamado Pai Damien, dedicou sua vida ao serviço numa colônia leprosos nas ilhas do Havaí. Certa manhã, na capela, declarou, com simplicidade: “Nós, os leprosos”. Assim, soube a congregação que o pastor contraíra lepra. O missionário descobriu que estava contaminado quando, certo dia, acidentalmente, deixou cair água fervendo sobre o pé e não sentiu dor alguma.

Pessoas há que pecam sem acusarem dor na consciência. A lepra do pecado torna insensíveis as suas almas. Se reconhecessem que tal insensibilidade é sinal de paralisia espiritual!

III – Os Mansos

        “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”. A mansidão é a virtude que oferece paciente gentileza em retribuição ao ódio, ofensa ou hostilidade. É o oposto de orgulho, ira, auto-afirmação e vingança. O coração verdadeiramente manso não reage à provocação; paga o mal com o bem; e, dos outros, nada exige e pouco espera. O mundo considera o manso covarde e vacilante; alma tímida, moralmente débil ante as batalhas da vida. Mansidão, porém, não é fraqueza; é força tornada gentil. Moisés era manso (Nm 12. 3), mas havia aço na sua estrutura moral, e raios e trovões no seu zelo (Ex 32. 19). O Senhor Jesus era manso (Mt 11. 29), mas basta-nos ver como expulsou os cambistas do templo e denunciou a hipocrisia dos fariseus (Mt 23).

IV – Pessoas que Desejam a Retidão

        “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”. Ensina-nos esta bem-aventurança: “Felizes os homens e mulheres que desejam, acima de qualquer coisa, o serem bons; que desejam mais ser piedosos do que ricos ou populares; e almejam tanto ser livres da injustiça quanto um faminto deseja comida”. Nela está definido o supremo alvo da vida do cristão: um caráter conforme a vontade de Deus (Mt 6. 33; Fp 3. 8,9). Por que uma bem-aventurança para os que têm bom apetite espiritual? Porque Deus valoriza as nobres aspirações: nos desejos mais íntimos revela-se o caráter do ser humano.

V – Os Misericordiosos

      “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”. O que é misericórdia? É uma disposição da alma, de ser semelhante a Cristo ao encarar amigos, inimigos, repudiados e pecadores. É uma manifestação da conduta. O misericordioso usa de bondade ao julgar os outros; procura o melhor, não o pior; é lento para condenar, rápido para recomendar. Como o bom samaritano, é prestativo (Lc 10. 30-37). Por que os misericordiosos obterão misericórdia? Ensina-nos a experiência que a atitude dos outros para conosco é reflexo do tratamento que a eles dispensamos. O crente que guarda profundo ressentimento e se recusa a perdoar o próximo, demonstra não estar em comunhão com Deus. Está longe da graça de Cristo (Mt 18. 21-35; 2 Pd 1. 5).

VI – Os Limpos de Coração

        “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”.  Como é possível ver a Deus? Podemos vê-lo a partir do momento em que Ele se torna uma experiência real em nossa vida. No porvir, os fiéis terão uma gloriosa e transcendente revelação de Deus, inacessível à vida presente: a visão beatífica (Jó 19. 26; Sl 17. 15). Não se entenda por condição para ver a Deus a perfeição sem pecado. Neste caso, só Cristo seria digno. Mas pureza de coração aqui significa simplicidade, cristalina sinceridade diante de Deus e firme resolução em cumprir a sua vontade (Jo 7. 17).

VII – Os Pacificadores

          “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”. Os que possuem as qualificações mencionadas nas primeiras seis bem-aventuranças hão de exercer influência de paz entre os homens e promover a reconciliação destes com o seu Deus (2 Co 5. 20). Sua vida e trabalho será semente de paz. Serão o oposto dos criadores de problemas. Serão chamados filhos de Deus (Ef 5. 1). Quem são os filhos de Deus? (Rm 8. 14; Gl 5. 22, 23).

VIII – Os Perseguidos por Causa de Cristo

           “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa”. Até este ponto, o Senhor descrevera os membros do seu reino e o caráter deles. Agora, avisa  aos discípulos como serão tratados pelo mundo.

A verdadeira bondade atrai oposição (2 Tm 3. 12). Os cristãos são diferentes do mundo. E são-lhe suspeitos aqueles que seguem caminho a ele estranhos. Espúrio é o cristianismo que não torna as pessoas diferentes do que eram.

A verdadeira bondade traz galardão.  O Senhor congratula os que são perseguidos por amor ao Evangelho. Por que? A disposição de alguém por sofrer pela justa causa de Cristo, mostra que essa pessoa é membro do seu Reino. Note-se, porém, que as bem-aventuranças nos versos 11 e 12 não se prometem aos que são perseguidos por suas próprias maldades ou estultícias (1 Pd 2. 19-21; 4. 15, 16).

Consideremos a alegria do caminho difícil. Era de se imaginar que aqueles descritos  nas bem-aventuranças fossem deixados em paz pelo mundo. No entanto, Jesus avisou-lhes que podiam esperar perseguições. Por que? Uma vida de piedade positiva é uma influência perturbadora no mundo em que vivemos. O homem que vive pela doutrina cristã faz nascer nos corações dos que não vivem corretamente, um conflito interior que transborda em maledicência e, às vezes, violência.

Por que o caminho difícil leva ao céu? “Porque deles é o reino dos céus”.  

Em conclusão, leia o incidente registrado em João 6. 15-21. Enquanto Jesus orava na montanha, os discípulos lutavam contra o mar bravio, tentando chegar à praia. Ao verem Jesus aproximar-se, foram tomados de medo porque não o reconheceram. Ouvindo, porém, a sua voz, que lhes trouxe a certeza da sua presença, receberam-no a bordo e logo chegaram ao seu destino.

MUITAS pessoas remam nas águas perturbadas deste mundo, procurando chegar à felicidade. Quando a figura de Cristo se aproxima, gritam com medo, temendo que lhe seja furtado o gozo da vida.  Você é um desses, meu caro leitor?

DEUS TE ABENÇÔE!